Afinal, o que é governança corporativa? Uma mera medida burocrática que vai engessar a tomada de decisão em sua empresa? Ou, na verdade, trata-se de uma de uma estratégia vital para o crescimento sustentável de uma organização?
Neste post, você vai entender não apenas o que é governança corporativa. Mas também como funciona a governança corporativa na prática.
Como funciona a governança corporativa: um exemplo real
Recentemente, a Harvard Business Review publicou um artigo sobre o caso do ex-presidente brasileiro da Nissan, Carlos Ghosn.
Depois de ser considerado um herói, ao salvá-la da falência no final do último milênio, hoje o executivo está às voltas com sérios problemas legais no país.
O motivo? Divulgações incompletas de valores mobiliários em suas demonstrações de resultados.
Esse é um típico problema que teria sido resolvido facilmente se uma boa política de governança corporativa tivesse sido aplicada na empresa.
Mas a Nissan, uma empresa renomada e respeitada mundialmente, não conta com esse tipo de prática?
Entre outros detalhes, o autor do artigo explica que devido a uma complexa inter-relação acionária, os stakeholders da Nissan não tinham como interferir na governança da empresa.
A Renault detém uma posição de voto de 43% das ações da Nissan. Por sua vez, a Nissan detém apenas 15% de participação sem voto na Renault. Como a Renault detém o controle de fato da Nissan, os acionistas públicos não tinham uma forma eficaz de conter a ações de Ghosn ou de outros executivos da Nissan.
Como você viu, entender como funciona a Governança Corporativa envolve fatores bastante complexos. No entanto, a prática do governança corporativa é fundamental para os negócios.
Por isso, confira, a seguir, em mais detalhes, o que é governança corporativa e como ela funciona.
Confira também: 4 melhores práticas de Governança Corporativa
O que é a governança corporativa, afinal?
Veja o que é governança corporativa segundo o IBCG, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa:
“Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas.”
Mas o que isso significa? Como funciona a governança corporativa na prática?
É importante entender que o objetivo da governança corporativa é preservar e garantir o valor econômico de uma empresa por longo prazo. Além disso, ela permitirá a melhoria dos processos, integração entre áreas e livre compartilhamento de informações relevantes.
Isso se dá por meio de uma série de princípios e pilares (que veremos adiante). Eles se convertem em ações e procedimentos reais do dia a dia, para alinhar os interesses de todos os envolvidos no negócio.
Como isso, a governança leva a mais transparência, segurança e menos risco. Assim, acaba contribuindo para uma gestão de alto nível, além de proporcionar acesso aos recursos que a empresa precisa.
Para entender tudo isso a fundo, acompanhe os tópicos a seguir.
Quer entender plenamente o que é governança corporativa? Então, confira este vídeo de nosso canal no youtube em que Jorge Secaf entrevista Sandra Guerra sobre o tema:
Veja mais: Boas práticas de Governança Corporativa (e a Caixa Preta da prática da governança)
Os pilares e princípios básicos da governança corporativa
Seria muito difícil entender o que é governança corporativa sem falarmos de seus pilares e princípios.
Os 4 princípios da governança corporativa
- Transparência: todos os interessados e envolvido no negócio têm o direito de ter acesso às informações de seu interesse. E isso significa disponibilizar não apenas aquilo que a lei obriga, mas tudo que possa auxiliar na gestão, na melhoria do desempenho da empresa e na garantia da geração de valor sustentável em longo prazo para o negócio.
- Equidade: equidade tem a ver – mas não somente – com igualdade. Gestores, proprietários, sócios e colaboradores, entre outros stakeholders devem ser tratados de maneira justa e isonômica. Para isso, devem ser considerados seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas.
- Prestação de Contas: sem prestação de contas, não existe governança corporativa. Todos os que de alguma forma atuam na empresa devem fazer isso de forma transparente, clara e em tempo para que seus atos sejam avaliadas e acompanhadas. Esses agentes devem assumir totalmente as responsabilidade sobre seus atos e também omissões.
- Responsabilidade Corporativa: se refere ao comprometimento de todos para que a viabilidade econômico financeira do negócio se preserve. Isso inclui evitar riscos desnecessários e buscar as melhores oportunidades de crescimento. O objetivo é que os capitais da empresa e sua capacidade de gerar valor sejam preservados em curto, médio e longo prazos.
Dica: 9 livros de Governança Corporativa: aprenda sobre o tema com os melhores autores
Os 6 pilares da governança corporativa
Com base nos princípios abordados acima, os 6 pilares devem sustentar a governança corporativa em uma organização.
São eles:
- Proprietários ou Sócios: mais do que exercer seus direitos de propriedade, esses agentes devem zelar pelo funcionamento adequado da empresa e assumirem suas responsabilidades, tanto de forma ativa e executiva, como acompanhando e vigiando.
- Conselho de Administração: tem papel fundamental na governança corporativa. Trata-se de um órgão colegiado responsável pela tomada de decisão estratégica. Deve fazer a intermediação entre os acionistas e os diretores da empresa, além de supervisionar essa relação. O objetivo é que todas as partes da organização tenham seus interesses garantidos de forma isonômica.
- Gestão: os diretores e demais agentes executivos da empresa são responsáveis pelo seu gerenciamento eficaz. Isso deve ocorrer dentro das leis e atendendo aos interesse de todos, de forma sustentável.
- Auditoria Independente: este é um pilar para garantir uma visão independente e isenta que poderá apontar desvios e alerta os demais pilares sobre eventuais falhas que precisam ser corrigidas.
- Conselho Fiscal: órgão independente dentro da empresa que deve acompanhar e fiscalizar a gestão e pode dar pareceres. Sua atuação recai, principalmente, sobre a gestão financeira e a legalidade das ações praticadas.
- Conduta e Conflito de Interesses: a criação de um código de conduta pode ajudar a empresa a dirimir conflitos de interesses. Estes se constituem em circunstâncias em que um dos agentes da organização se encontra de certa forma impedido de atuar, porque tem interesses pessoais ou de sua área que podem ser conflitantes com os interesses da empresa como um todo.
Está ficando mais claro para você o que é governança corporativa? Então, confira esta figura que ilustra os 4 princípios e a os 6 pilares da governança corporativa:
Veja também: Você sabe o que é Conselho de Administração na Governança Corporativa?
As características da governança corporativa e seus benefícios
Ao adotar a governança corporativa, você pôde perceber que as organizações podem se beneficiar de várias formas.
Isso se deve a algumas características da governança corporativa:
- Transparência: as informações são abertas e livres para a consulta de todos os interessados. O s atos e decisões devem ser tomados com a devida clareza e de forma pública para aqueles que fazem parte da organização.
- Participação: a descentralização e a colaboração devem integrar diversas áreas e o mais variados níveis hierárquicos do negócio.
- Responsabilidade: todos devem responder por seus atos e assumir suas responsabilidades.
- Orientação por consenso: as decisões são tomadas de forma a atender ao maior número de interesses possível, de forma consensual, sem despotismo ou autoritarismo.
- Accountability: todos devem prestar contas de seus atos de forma clara e aberta e, de preferência, sem que sejam acionados para isso, mas de forma natural e espontânea.
- Isonomia: igualdade de tratamento para todos, sem preferências ou preconceitos.
- Estado de direito: todos os atos da empresa devem estar dentro da lei e das normas vigentes.
- Eficiência: Fazer mais com menos, atendendo aos níveis de qualidade desejados pelo cliente final, de forma a garantir o crescimento sustentável da empresa.
São essas características que definem o que é a governança corporativa. E, graças a elas, as empresas podem usufruir uma série de vantagens e benefícios.
Confira este quadro resumo das características da governança:
Benefícios da governança corporativa
1- Identificar, avaliar e mitigar riscos
Com tantas ferramentas e mecanismos de controle, a gestão de riscos fica muito mais facilitada.
Como a tomada de decisão é sempre consensual e pode ser supervisionada tanto pelo conselho administrativo, fiscal e por auditorias internas, os risco de erros diminuem drasticamente.
2- Transparência no processo de sucessão
Nem sempre a sucessão em cargos importantes na empresa segue critérios justos e isonômicos. Isso é particularmente crítico em empresas familiares.
Com o uso da governança corporativa, esses processos de RH voltados para a sucessão se tornam transparentes e mais objetivos.
3- Monitoramento da gestão
Em empresas sem governança é muito difícil monitorar a gestão dos alto cargos. Afinal, esses são os líderes do negócio e não há ninguém acima deles.
Com as ferramentas usadas na governança corporativa, como os conselhos, esse monitoramento se dá de forma natural.
4- Auxílio na tomada de decisões estratégicas
Importantes decisões estratégicas são tomadas por um órgão colegiado composto por executivos de alto nível, o Conselho de Administração.
Dessa forma, sempre serão bem estudadas e tomadas com a devida cautela e competência.
5- Minimizar conflitos
Pelas próprias características da governança corporativa, como a transparência, a isonomia e o consenso, os conflitos são drasticamente minimizados.
6- Facilidade de acesso a capitais
Até por determinação dos órgão reguladores, a captação de recursos por meio de ações pode acontecer em empresas em que a governança corporativa é aplicada.
Além disso, esse é um fator positivo de análise de crédito por parte de instituições financeiras.
E não vamos nos esquecer de outros capitais, como o intelectual, por exemplo, que pode ser atraído por empresas com uma maturidade de gestão característica das organizações que praticam a governança corporativa.
7- Alinhamento de interesses
Por fim, vamos nos lembrar que um dos principais objetivos da governança corporativa é exatamente alinhar os interesses de acionistas, proprietários, gestores, colaboradores e outros stakeholders.
Confira esta ilustração que resume as estas principais vantagens da governança corporativa:
Os 4 principais modelos de governança corporativa
Para finalizar nosso texto sobre o que é governança corporativa, vamos apresentar o principais modelos de governança corporativa usados:
1- Outsider System
Neste sistema, o foco da governança acontece com a atuação de diversos acionistas, dispersos no mercado de ações, e que não fazem parte da empresa.
Como estes agentes visam o lucro, estarão sempre muito atentos a quaisquer atos que possam prejudicar seus interesses e diminuir a eficiência e a geração de valor do negócio.
2- Insider System
Neste caso, todos aqueles que de alguma forma contribuem para os sucesso do negócio, sejam colaboradores, gestores e até parceiros, externos à empresa, estarão zelando pela governança corporativa.
3- Sistema alemão
Nesta modelo de governança corporativa a importância dos acionistas é reduzida.
A gestão da empresa é determinada por meio de um asserto que engloba vários níveis hierárquicos da organização.
O que acontece é que como o acesso ao capital monetário retira seu foco dos acionistas e o leva para instituições bancárias, estas passam a ter certa influência sobre o negócio.
4- Sistema latino-americano
Muito focado nos grandes acionistas, vem sendo melhorado e, hoje, pequenos acionistas e integrantes da gestão empresarial passaram a ter mais voz nesse modelo de governança.
Leia mais em nosso blog: Vantagens e desafios ao implantar a governança corporativa na empresa familiar
A Setting é uma empresa de consultoria empresarial que, entre diversas outras capacidades, pode auxiliar seu negócio na estruturação do modelo de governança, gestão de riscos e compliance
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