Caos? Anarquia? Desordem? Veja como a ausência de estrutura e organização formal e hierarquia nas organizações passou a ser uma qualidade, e não uma fraqueza.
As estruturas de poder em nossa sociedade, tanto nas empresas como na família, foram desenvolvidas, em sua maioria, com base em estruturas militares e religiosas, onde o poder está nas mãos de poucas, ou mesmo de uma só pessoa.
Na prática funciona da seguinte forma: existe, supostamente, uma cabeça pensante que comanda muitas outras cabeças que, apesar de também pensarem, guardam para si todas as possíveis contribuições pelo simples fato de que suas ideias, muito provavelmente, não serão consideradas ou se perderão pelo caminho, sem conseguir chegar ao topo da pirâmide.
A forma piramidal das estruturas (ou seja, com vários níveis hierárquicos) nos dá uma ideia de organização e, para as camadas mais baixas, uma certa segurança emocional que as deixou acomodadas por muito tempo com o fato de que a responsabilidade estava, na grande maioria das vezes, a cargo das camadas superiores.
Mas será esta a melhor forma de definir a hierarquia nas organizações?
Nesta postagem, vamos analisar esta questão mais a fundo e mostrar uma resposta que talvez surpreenda você.
Como deve ser a hierarquia nas organizações?
Além da estrutura funcional (hierárquica), são também bastante utilizadas a estrutura por projeto e a estrutura matricial ou mista, que utiliza a combinação das estruturas funcional e por projeto, buscando reunir o melhor de cada uma delas.
No entanto, nesses três tipos de estrutura, a ideia de hierarquia nas organizações, de poder e chefia, continua presente, sendo, inclusive, uma das dificuldades no uso da combinação de duas delas, pois o gerenciamento dos recursos do projeto, muitas vezes, não fica a cargo do gerente do projeto, e sim de alguém que está na hierarquia funcional (esse é o caso da estrutura matricial).
Mais recentemente surgiram as estruturas em rede, utilizadas, principalmente, em empresas de tecnologia. Neste tipo de estrutura, as equipes trabalham em cooperação umas com as outras, deixando de lado a hierarquia formal e criando um sentido coletivo de propriedade e responsabilidade.
Nas estruturas em rede, praticamente desaparece a ideia de chefe e aparecem figuras de líderes com papel motivador, organizador e até patrocinador. Alguns exemplos são projetos de cooperação científica, organizações do terceiro setor e filantrópicas, desenvolvimento de softwares livres, entre outros.
Mas… como lidar com essas estruturas?
Muito se fala, hoje em dia, de liderança pelo carisma, pelo exemplo ou pela capacidade de conseguir naturalmente o comprometimento da equipe…, mas até que ponto as organizações estão mudando suas estruturas hierárquicas para que essas novas lideranças possam, de fato, serem capazes de tornar empresas centralizadoras em empresas abertas?
Tanto no campo pessoal quanto no profissional, paradigmas estão sendo questionados e novos modelos e padrões têm sido pensados e praticados.
Um sistema descentralizado não significa uma anarquia, ele tem regras e normas que apenas não são impostas por uma só pessoa. Não há um poder coercitivo e todos têm o direito de tomar suas próprias decisões.
No livro “Quem está no comando? O poder das organizações sem líderes”, Brafman e Beckstrom comparam as estruturas das organizações com as de uma estrela do mar e de uma aranha.
O livro, publicado no Brasil em 2006, utiliza como exemplo a forma como os apaches conseguiram combater o poderoso exército espanhol por 200 anos, e faz um paralelo com a influência da internet e como ela se tornou um terreno fértil para as organizações sem líderes.
Segundo os autores, a estratégia dos espanhóis (um corpo centralizado) em relação aos apaches era: “Pegue o ouro e mate o líder! ”.
Acontece que, para cada líder eliminado, um outro líder aparecia. A estratégia falhou, porque nenhuma pessoa específica era essencial para o bem-estar geral da sociedade apache. Não só eles sobreviveram aos ataques espanhóis, como se tornaram mais fortes, descentralizados e invencíveis.
Quando atacados em suas vilas, ao invés de se renderem, os apaches as abandonavam e se tornavam nômades. “Tente nos pegar agora! ”
Desta forma, os espanhóis seriam a aranha, que morreria sem sua “cabeça” e os apaches são a estrela do mar, que se refazem e continuam andando, mesmo com uma perna a menos.
Como manter-se vivo no mundo empresarial hoje em dia?
Atualmente, não há quem não conheça e utilize serviços como Wikipedia, Waze, Uber, Netflix e outros tantos que estão surgindo. Mas o que faz esta nova forma de estrutura ter tanto sucesso? Como as empresas podem se preparar para mudar ou enfrentar este tipo de concorrência?
Bem, é fácil perceber hoje que os jovens das gerações Y e Z são capazes de abrir mão do sucesso corporativo, não aceitam condições trabalhistas que não os satisfaçam e não gostam de hierarquia nas organizações que sejam formais.
E, como são eles que estarão à frente dos negócios em um futuro próximo, provavelmente as organizações terão também características parecidas.
Sendo assim, a minha sugestão é que, nos ciclos de planejamento estratégico sejam consideradas discussões sobre o modelo de negócio da empresa. E, para que tenham sucesso, devem ser incluídos todos da organização nestas discussões, isso já será um belo treino para o futuro.
Combinando as características das novas gerações com os princípios da descentralização, que parece ser uma tendência mundial, é fácil perceber que, no mínimo, devemos estar atentos a estas mudanças para que nossas empresas possam continuar sendo eficazes no futuro.
Diversidade, comunicação aberta, educação e formação continuada, uso intensivo da tecnologia e ambiente colaborativo são alguns atributos importantes a serem considerados em uma renovação da hierarquia nas organizações, sua estrutura e da cultura de sua empresa.
Não dá para esperar muito, pois as “estrelas-do-mar” estão se multiplicando rapidamente e as novas gerações estão aí para conduzi-las.
Então, sua empresa está parada? Não deixe que isso aconteça, existem grandes desafios pela frente!