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Nosso entrevistado deste mês é Ruy Campos Filho, administrador de empresas formado pela FGV com cursos de especialização em diversas universidades no exterior. Após uma carreira de sucesso em posições de liderança em grandes empresas no Brasil e no exterior, decidiu mudar sua trajetória e passou a dedicar-se a projetos e causas importantes para a sociedade e para o indivíduo, com foco na sustentabilidade. A partir de 2005 redirecionou seus interesses para trabalhos voluntários e no desenvolvimento de tecnologias “verdes”.  Hoje, Ruy é colaborador no projeto Piracaia Orgânica,  que visa constituir uma cidade orgânica.

01.Você poderia nos contar como surgiu a ideia de criar um grupo de produtores e consumidores orgânicos e porque você se envolveu neste projeto?

A cidade de Piracaia já havia acolhido pessoas que possuíam uma preocupação com questões ligadas a práticas de vida saudável, para si e para a população. Na medida que este contingente de pessoas foi aumentando, e as pessoas se conhecendo, foi natural a conclusão que havia a necessidade de unir esforços e experiências em torno dos temas de interesse comum para que tais práticas se espalhassem e atingissem cada vez mais os habitantes da cidade. Foi criada então uma entidade jurídica, a Associação Piracaia Orgância (APO), para facilitar a relação com outras entidades parceiras, viabilizar a atuação junto a órgãos públicos, atender as muitas exigências burocráticas, e aglutinar de uma forma organizada as iniciativas, interesses, e vocações . Dentre os vários temas que interessam a Associação, o consumo de alimentos saudáveis é o que toca mais diretamente um maior número de pessoas, portanto é natural que atraia mais gente interessada em participar de todo o processo e traga junto os temas que estão intimamente ligados a essa atividade.
O meu envolvimento com este projeto se deu exatamente desta forma, ou seja, a partir de uma convicção pessoal da importância do tema para mim e os que estão próximos de mim, e o desejo de participar deste esforço para atingir um maior número de pessoas que por inúmeras razões dificilmente conseguiriam se beneficiar disso tudo. Tive também a sorte de ter uma companheira que também abraçou esse desafio de vida e muitas vezes me puxa com entusiasmo e liderança muito competente.

02.O que é exatamente uma cidade orgânica?

Uma cidade orgânica, é aquela que incentiva e acolhe todas as atividades agrícolas sustentáveis e reconhece a interdependência de todos os seus órgãos e sistemas para manter o seu meio saudável. E como se consegue isso, além da produção de alimentos saudáveis? Através de ações ligadas a correta gestão de recursos hídricos, o descarte correto de resíduos, a preservação da fauna e da flora, o consumo consciente, o comércio justo e a valorização de tudo o que é local. Uma cidade orgânica possui cidadãos que reconhecem os ganhos pessoais e coletivos deste sistema e o defende de qualquer ameaça a sua existência.

03.O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. O projeto de criar uma Cidade Orgânica em Piracaia é bastante ousado e pioneiro em nossa sociedade. Imaginamos que para o sucesso do projeto será necessário o envolvimento de toda a população da cidade. Como você vê este desafio e quais os principais pontos a serem observados?

A APO tem consciência dos enormes desafios e das dificuldades em manter o nível de energia de todos envolvidos diretamente nesse processo, até porque uma característica importante deste grupo de pessoas é o caráter voluntário do seu trabalho. As pessoas mais diretamente envolvidas no dia a dia dos projetos possuem um invejável espírito de solidariedade humana e se motivam muito ao pensar que mesmo o pouco que conseguem fazer trará muitos benefícios para as gerações futuras. O envolvimento da população é talvez o maior desafio pois as forças e hábitos que a leva na direção contrária são desproporcionalmente maiores e mais enraizados. Acreditamos que todas as ações devem fazer parte de políticas públicas em seus diversos organismos e programas para que possam atingir um número maior de pessoas, passem a ser observadas positivamente pela população, e adquiram um caráter fundamental de perenidade. Dessa forma, na medida do possível, os membros da APO procuram trabalhar junto com as Secretarias Municipais participando dos diversos grupos, conselhos, etc que tratem dos temas de seu interesse. Os organismos de fomento e financiamento públicos para aprovação de projetos específicos, como por exemplo preservação de nascentes, cursos de formação diversos, também são acionados pela APO. Futuramente, o apoio da sociedade civil para projetos que encontrem correlação com objetivos estratégicos de empresas e de pessoas que igualmente se interessam por esses assuntos, também poderá ser proposto. A APO também participa de muitas iniciativas de caráter popular como festas, feiras, exposições, palestras, etc. para disseminar cada vez mais as ações ligadas a sua missão.

04.Vocês possuem ou pretendem ter algum tipo de certificação para o projeto? Existe um órgão certificador no Brasil ou em outro país?

Para o projeto APO especificamente, ainda não pensamos nisso. Achamos que a certificação mais urgente é a de um número cada vez maior de produtores de alimentos orgânicos para que a oferta aumente e consiga atender cada vez mais uma demanda crescente por alimentos orgânicos produzidos dentro das normas e práticas exigidas pelos organismos certificadores. No caso da certificação dos produtores, a APO está inserida no Sistema Participativo de Garantia (SPG), regido pelas leis orgânicas do país, através de uma outra Associação parceira, a Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região (ANC). Neste contexto, temos produtores certificados e em processo de transição agroecológica que interagem com os consumidores locais.

05.Sabemos que no mundo corporativo, as boas práticas de gestão são fundamentais para o sucesso de uma empresa. Qual a importâncias da gestão no projeto Piracaia Orgânica?

Dentro do possível, algumas práticas de gestão que existem no mundo corporativo são aplicadas, como por exemplo, fizemos no início um planejamento estratégico. Mas, ainda é cedo para se falar em algo mais sofisticado ou estruturado pois ainda estamos em uma fase onde o esforço para motivar a participação de mais pessoas e criar condições para que os projetos possam ser implantados é muito grande. Pessoalmente, eu preciso ainda entender melhor onde as práticas do mundo corporativo ajudam e onde precisam ser adaptadas para que não atrapalhem se fossem aplicadas como em uma empresa. Acho que aqui tem mais um reforço àquilo que o mundo corporativo vem aprendendo a valorizar mais, a de que adaptação, inovação, e respeito às pessoas, suas origens, e diversidade, é muito importante para a obtenção de resultados.

06.Como nossos leitores podem conhecer mais sobre o projeto e quem sabe ser mais um colaborador?

O site da APO tem mais informações (www.piracaiaorganica.eco.br). Colaborar com recursos ainda não é possível pois a APO ainda não se estruturou adequadamente para ir atrás de “funding” privado. No entanto, eu acho que a maior colaboração sempre será, e isso já pode ser feito hoje, através da adoção de práticas relacionadas a uma alimentação saudável, ajudando assim a viabilizar economicamente aqueles que passaram a produzir alimentos orgânicos pelo aumento da demanda por esses produtos. Hoje, em São Paulo, já existem feiras de produtos orgânicos onde se encontra tudo que consumimos regularmente. Muitos supermercados já perceberam o aumento desta demanda e passaram a oferecer espaços cada vez maiores para expor estes produtos. Há também a possibilidade de se fazer pedidos pela internet com entrega programada em sua casa de uma variedade enorme de produtos orgânicos. Eu acredito que esta é uma forma fácil de colaborar com o conceito e que, de quebra, ajuda aqueles que querem viver mais tempo, mas com mais saúde também. Um bom investimento, não acha?

07. Algo que não falamos que você gostaria de mencionar?

Sim. Acho importante não deixar a impressão que a APO é uma Associação imune aos desafios naturais de uma organização composta por voluntários que precisam tocar suas vidas em paralelo. É um enorme desafio conciliar o conflito entre dedicar voluntariamente mais tempo a APO e ter que trabalhar para pagar contas. Isso sempre vai influenciar o número de iniciativas e o ritmo de execução dos muitos projetos que a APO tem interesse em abraçar. Cabe aos seus membros entender esta dinâmica e e se esforçar para manter a chama acesa. Mas, de uma coisa eu tenho certeza. O que já foi feito, o número de pessoas que já foram tocadas por este projeto direta ou indiretamente, e o prazer de fazer parte de um coletivo transformador, já são ganhos enormes.

Flavia Secaf

Flavia Secaf

Sócia, Consultora e Coach, Flavia Stuart Secaf especialista em psicologia clínica, psicologia da educação e gestão empresarial, atuou em instituições públicas e privadas como consultora, orientadora e avaliadora educacional. Psicóloga clínica pela PUC-SP e Coach Executiva e Life Coach pelo ICI - Integrated Coaching Institute.

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