Graduado em Administração de Empresas pela FGV-SP, Diego foi um dos pioneiros do movimento crowdfunding no Brasil e é um dos sócios do Catarse, a primeira plataforma de crowdfunding para projetos criativos do país.
01. Como surgiu o Catarse? Quais foram os principais desafios na criação e no estabelecimento da plataforma?
Inspirados pelas plataformas Kickstarter e Indiegogo, a ideia do Catarse nasceu em 2010 a partir do encontro de diferentes grupos com o interesse comum em empreender no financiamento coletivo no Brasil. Eu e o Luís Otávio Ribeiro, administradores recém-formados, conhecemos o programador Daniel Weinmann, de Porto Alegre, e juntos criamos o blog Crowdfunding Brasil para discutir o tema no país. Através da internet, encontramos os irmãos Rodrigo e Thiago Maia, um jornalista e um designer do Rio de Janeiro. Os três grupos já estavam desenvolvendo as suas plataformas quando vislumbraram a possibilidade de uma atuação inicial forte nas três cidades e decidiram se juntar para oferecer a alternativa do financiamento coletivo para os inúmeros projetos que ficavam engavetados por falta de oportunidades no Brasil. Em 17 de janeiro de 2011, a plataforma foi ao ar. Dos fundadores, hoje, apenas Daniel não continua na equipe de 16 pessoas que levam o dia a dia da plataforma. O Catarse, portanto, nasce coletivamente e até hoje esse espírito perpassa toda a empresa. O principal desafio na criação da plataforma era de saber como o público apoiador iria reagir. Sabíamos que havia muitas pessoas interessadas em arrecadar recursos para os seus projetos, mas não se as pessoas estariam dispostas a colaborar através de uma plataforma online. Procuramos desenvolver uma maneira simples de as pessoas entenderem o sistema do financiamento coletivo e uma forma simples de elas conseguirem fazer o pagamento. Acredito que isso tenha ajudado neste processo, mas só depois dos 5 primeiros projetos terem sido financiados que tínhamos uma certeza maior de que esse modelo poderia sim ser operado no Brasil.
02. O movimento crowdfunding é relativamente novo no Brasil. Como foi, inicialmente, a adesão do público? E hoje, como é esta adesão?
Por parte dos realizadores, inicialmente o movimento foi tímido – apesar de as pessoas precisarem de recursos, muitas não se sentiam confortáveis em experimentar o modelo. Outras, empolgadas com o modelo, ainda não tinham seus projetos formatando. Creio que é um movimento natural quando você fala de um modelo inovador. Hoje em dia, cada vez mais as pessoas já conhecem sobre o financiamento coletivo. Acredito que agora seja mais uma questão de eu ter um projeto que possa se beneficiar desta forma de captação do que se eu vou confiar no modelo. Os números e a quantidade de casos bem-sucedidos ajudam muito nesse processo de criação de confiança. Pelo lado dos apoiadores, acredito que no início era um corpo formado por alguns empolgados pelo modelo do financiamento coletivo (baseado nas experiências destes sites fora do Brasil) e muitos amigos, conhecidos e fãs dos projetos que estavam captando. Hoje vemos cada vez mais pessoas buscando projetos numa plataforma de financiamento coletivo, o que é uma mudança de comportamento do público: a busca por projetos que fogem da sua alçada de conhecimento prévio.
03. Qual é o envolvimento do Catarse no planejamento, execução e divulgação dos projetos?
Nós não temos um grande envolvimento com o planejamento dos projetos. Temos alguns materiais que elaboramos ao longo dos últimos anos, com o conhecimento que acumulamos sobre estas etapas, mas devemos focar em melhorar e fornecer novos materiais como esse ao longo do ano. No processo de seleção, costumamos dar alguns toques (sobre o que dá certo e o que dá errado) sobre vídeos, recompensas, texto de apresentação do projeto, mas mais no sentido de dizer o que funciona e o que não funciona como regra geral do que falar pra pessoa exatamente o que ela tem que fazer.
04. Você percebe uma diferença de apoio a projetos mais ou menos estruturados? Ou seja, existe uma relação clara entre projetos mais bem-estruturados e mais bem-sucedidos?
Sim. Um projeto bem-estruturado (vídeo curto e explicativo, transparência em relação aos custos, recompensas criativas, bom planejamento de divulgação da campanha) gera confiança e confiança é fator fundamental para conseguir apoiadores. Uma forma de perceber isso é a diferença entre a taxa de projetos bem-sucedidos dos projetos recomendados pela nossa equipe de seleção (em geral esses projetos são bem estruturados) e os projetos gerais no site. No primeiro caso, a taxa de sucesso supera os 70% , sendo que de forma geral a taxa de sucesso é de 58%.
05. Qual é a maior diferença entre os projetos inscritos em plataformas de crowdfunding no Brasil e em outras nações?
Fora do Brasil há uma quantidade maior de projetos de base tecnológica (gadgets, games, design de produtos),que ainda são pouco presentes por aqui. Além disso, aqui o valor máximo arrecadado por um projeto de financiamento coletivo foi pouco mais de R$200 mil, enquanto lá fora esse valor já chegou a mais de U$10 milhões.
06. Considerando que a maioria dos projetos no Brasil trabalha no âmbito cultural, você acredita que este seria um traço característico do cenário do país?
Acredito que seja um traço que aponta algumas realidades do País, como a dificuldade de acesso a recursos na cultura. Mas não é um traço exclusivo do Brasil, pois mesmo no Kickstarter (maior site de financiamento coletivo do mundo) a maioria dos projetos são culturais.