Nossa entrevistada deste mês é a advogada Luiza Rezende. Graduada pela Universidade de São Paulo, Luiza é sócia da Soares Rezende Chinaite Sociedade de Advogados especializada em Startups e criadora dos blogs Startup Blog Brazil e Online Strategy 123.
01. Existem pessoas que acreditam que muitas Startups estão mais vinculadas às novas oportunidades de negócios do que aos desejos mais profundos de seus fundadores. Você acredita que o cenário latente do Brasil favorece o surgimento de novas Startups?
Pessoalmente acredito que esse grande movimento empreendedor que vem acontecendo em vários países do mundo nos últimos anos é em grande parte uma consequência das mudanças econômicas, sociais, políticas e comportamentais causadas pelo florescimento e expansão da internet, redes sociais, e-commerce e outros movimentos “online” como crowdsourcing, crowdfunding, entre outros. A internet é algo relativamente recente, e vem se expandindo a cada dia no mundo inteiro. Entre as muitas vantagens que ela traz está a possibilidade de um business ser criado e expandido com um investimento inicial bem mais baixo do que em um business totalmente off-line (em um mundo sem internet por exemplo). Ela facilita a criação de uma vitrine online de baixo custo (site, páginas em redes sociais etc), marketing (anúncios online, marketing de conteúdo etc), comunicação com consumidores (email, mensagens em redes sociais, comunidades etc) organização de redes de vendas de forma muito mais prática etc. Em paralelo a isso, o “instinto empreendedor” sempre esteve presente no ser humano, mas em um cenário econômico/financeiro em que são necessários grandes investimentos para se abrir uma empresa, essa possibilidade acaba ficando restrita àqueles que estão capitalizados e podem se aventurar em grandes gastos sem ter certeza do retorno. A internet e os elementos que citei no início dessa resposta reduzem bastante esse investimento inicial para se montar um negócio (em todas as áreas envolvidas nesse negócio), fazendo com que caso o negócio fracasse as perdas sejam menores, ajudando assim que esse “movimento empreendedor” floresça. E aí um ciclo virtuoso se inicia, porque pessoas veem mais gente empreendendo e “criam coragem” de concretizar um sonho pessoal que tinham há muito tempo, se inspiram pelos novos empreendedores etc. Em resumo, o cenário externo é também um estimulador do “cenário interno” dos potenciais empreendedores, acelerando ainda mais o esse movimento empreendedor do qual estamos falando.
02. Parte considerável dos empreendedores pensa em montar seu negócio já pensando nos possíveis investidores, porém, muitas vezes estas empresas não estão prontas para receber o investimento desejado. Como você acha que estes empreendedores podem se preparar para o mercado?
Acredito que empreendedorismo tem muito a ver com prática, colocar a mão na massa e ter uma boa equipe ao seu lado. Estudar administração de empresas e ler livros sobre empreendedorismo e criação de modelos de negócio podem ser importantes primeiros passos para se iniciar um negócio de sucesso que cresça e esteja pronto para receber investimentos, mas não só. É importante ter uma equipe diversa, pois conhecimentos de administração, marketing, TI, direito, contabilidade, finanças, comunicação, design… todos esses serão necessários em algum momento da vida da startup. Ter pessoas com esse tipo de conhecimento por perto para poder colaborar no início (enquanto não é possível contratar empresas especializadas em cada um dos ramos para serem parceiras da startup) ajuda a empresa a crescer e amadurecer. Além disso, por ser uma experiência muito prática, é importante conversar com pessoas mais experientes ligadas ao empreendedorismo para se aconselhar e perceber quais são os passos mais indicados para você e sua startup; falar com outros empresários que estão atuando no mesmo mercado que você, pessoas que já empreenderam, investidores, mentores, participar de eventos… a “comunidade empreendedora” está aí para ser acessada e ajudar que os empreendedores se preparem para crescer. Não existe regra para amadurecer como empreendedor e estar pronto para fazer sucesso e expandir, mas boas pistas estão no conhecimento humano de pessoas mais experientes e que já estão há mais tempo vivenciando o cenário empresarial/empreendedor brasileiro. A internet e as comunidades online também possuem bastante informação gratuita para quem quer se orientar e perceber qual o melhor caminho (conteúdo sobre os mais variados assuntos, eventos, sites específicos, comunidades, orientação etc). Ficar trancado em casa lendo livros e pensando que é possível fazer tudo sozinho não tem se mostrado uma boa solução na maioria dos casos: é importante se conectar, conversar com quem está envolvido há mais tempo, ler bastante, conversar com profissionais especializados.
03. Existem diferenças na legislação que rege as Startups e as empresas “tradicionais”? Quais são as principais?
A definição de startup não é um consenso entre os profissionais que trabalham com o tema (inclusive escrevi um post no blog sobre o assunto), mas acredito que a maioria das startups no Brasil seja organizada no modelo jurídico empresarial, ou seja, tendo em vista, atuar comercialmente e auferir lucro. Sendo assim, a legislação aplicada a elas seguirá a mesma legislação aplicada às empresas no Brasil, com as peculiaridades (e regulamentações específicas) de cada caso. É importante que o empreendedor consulte um advogado especializado que possa lhe dar as devidas orientações e indicar a melhor forma de proteger juridicamente a empresa.
04. Você acredita que a aprovação do Marco Civil da internet influencia às Startups?
Sim, milhares de startups atuam fortemente na internet e serão influenciadas pelas novas regras.